Eliminar a hepatite C em Portugal é uma questão de organização

Eliminar a hepatite C em Portugal é uma questão de organização

Data: 2017-09-13

Segundo um estudo desenvolvido pela Nova School of Business & Economics e que pretende contribuir para a implementação de um plano estratégico nacional de redução substancial da incidência e prevalência do vírus da hepatite C em Portugal até 2030 – conforme o objetivo definido pela Organização Mundial de Saúde – a eliminação desta doença depende mais da organização do que do financiamento.

O Dr. João Marques Gomes, coordenador e um dos autores do estudo "Eliminar a hepatite C em Portugal: da visão à ação", explica através de um comunicado de imprensa que, "de acordo com as conclusões do estudo, a eliminação da hepatite C não é uma questão de financiamento ou de falta dele, é uma questão de organização, se o poder político quiser implementar as nossas propostas pode fazê-lo amanhã".

A Organização Mundial de Saúde (OMS) traçou como metas, na sua primeira estratégia global para as hepatites virais, em junho de 2016, a redução da incidência do vírus da hepatite C em 90% e a mortalidade em 65%, até 2030. No mesmo ano, no âmbito do plano europeu de ação contra as hepatites virais da OMS, Portugal comprometeu-se a cumprir esse o objetivo, sendo que já tinha assumido o compromisso de eliminar a hepatite C como problema de saúde pública garantindo o acesso universal ao tratamento.

Este estudo identifica, em primeiro lugar, os principais problemas ao longo da cascata de cuidados do vírus da hepatite C em Portugal, isto é, as lacunas e barreiras existentes em matéria de awareness e prevenção, rastreio e diagnóstico, ligação aos cuidados de saúde, acesso aos cuidados de saúde especializados, acesso ao tratamento, e finalmente, avaliação e monitorização.

Em segundo lugar, o estudo conclui que a grande maioria dos problemas resulta da falta de coordenação entre os vários intervenientes da cascata de cuidados, o que leva a que uma proporção significativa dos doentes se perca ao longo desse percurso. De destacar que, um doente "perdido" é, não só um doente por curar, mas também um foco potencial de transmissão da doença.

Identificados os principais problemas ao longo da cascata de cuidados do vírus da hepatite C em Portugal, este estudo apresenta um conjunto de recomendações. Proximidade, simplificação e integração são as palavras-chave, enquanto o rastreio universal, os cuidados de saúde primários e a prestação de cuidados de saúde na comunidade constituem a estrutura que permitirá eliminar a hepatite C como ameaça à saúde pública em Portugal num futuro próximo.

Recomendações-Chave:

- Diagnóstico e tratamento na comunidade para uma proximidade efetiva entre o doente e o sistema de saúde.

- Gestor de caso, que permite dar resposta a um conjunto de problemas identificados no atual percurso do doente.

- Financiamento e incentivos alinhados no que diz respeito ao rastreio, diagnóstico e tratamento.

- Navegador de saúde, cuja função é acompanhar o doente desde o rastreio até ao primeiro contacto com os cuidados de saúde e ao longo das várias consultas necessárias até ao fim do tratamento.

- Rastreio universal, num curto espaço de tempo é uma forma custo-efetiva de determinar a epidemiologia da infeção pelo vírus da hepatite C, de identificar todos os doentes e de consequentemente quebrar a cadeira de transmissão.

- A hepatite C é uma doença global, física, mental e social. O papel da sociedade é aumentar as condições de vida das pessoas em situação de exclusão social. Ao deixar que o vírus da hepatite C continue a ser transmitido, que os doentes continuem a ser diagnosticados só em fases mais avançadas da doença, ou que os doentes diagnosticados não sejam tratados, estes custos económicos e sociais continuam a agravar-se.

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